AMORFINA
viver numa falta de ritmos
com vácuo nas veias
e constantes arrepios
predando desvãos de retinas
e línguas malsãs
droga se é boa
necessárias palpitações engilhadas
caídas de espinhela:
nem toda luz é dia
se a mesa é farta de cores
lembranças tiram o gosto do giló
e rescendem melaço
cheiros espiralam no tutano
feito pião
quem provou viu que é bom
justifica a dor, arraiga
e permite sobrevidas de gatos
semeia verde até nos olhos
colhe tempestades
de gosto é impreciso
amorfina dilata vasos
entorpece sentidos
cura moléstias contraídas até à distância;
quem não leu tatuagens de árvores, ignora
espoca a jugular, sufoca, tensiona
coxa de moça ou maçã de rosto madura
bico duro e pelo
saliva, giro de língua, glúteos
contém gramas
e não existe dose letal
se o siso escapole, recompensa
o riso amaina e se a fome é leviana
esconjura
rouba o vôo dos pássaros
sê leve ao corpo que te recebe
23/10/97
Goulart Gomes
Enviado por Goulart Gomes em 05/03/2007