23/03/2007 19h54
OLAVO BILAC psicografado
Em 1935 era lançado, no Brasil, um livro polêmico: PARNASO DE ALÉM-TÚMULO. Seu autor, então com 25 anos, de origem extremamente pobre, nascido num remoto interior de Minas Gerais, que mal possuía o curso primário e que quase nenhum acesso teve a obras da literatura publicava um livro que trazia poemas inéditos de alguns dos maiores nomes da literatura brasileira, já falecidos. Este rapaz era Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier, o maior médium espírita brasileiro, com mais de 500 livros publicados e 20 milhões de exemplares vendidos. Vale ressaltar que apesar de toda esta vendagem, Chico Xavier, continuou o mesmo homem pobre, simples e humilde, destinando toda a renda das suas publicações às entidades espíritas de caridade. Naquele mesmo ano, a polêmica ganharia os tribunais da Justiça. A viúva do escritor Humberto de Campos move ação contra Chico, reclamando direitos autorais das obras psicografadas. O assunto ganhou os meios de comunicação. O jornal “O Estado de São Paulo” afirmava que a Lei tinha duas opções: se achasse que o autor era mesmo Humberto de Campos, os editores deveriam pagar direitos à viúva; se concluíssem que ele não era o autor psicografado por Chico Xavier, a Academia Brasileira de Letras deveria reservar um lugar de honra para o jovem fenômeno. A Justiça deu ganho à viúva, confirmando, assim, a veracidade das comunicações e Chico, ao invés do Nobel de Literatura, veio a concorrer ao Nobel da Paz, em 1981. Independente das convicções religiosas dos leitores (e das nossas próprias), apresentaremos aqui alguns dos trabalhos publicados naquela obra. Deixamos que a polêmica permaneça e que cada leitor chegue às suas próprias conclusões. Acreditamos que o nosso dever maior é para com a beleza da POESIA, independente da forma como ela se manifesta.
A CRUCIFICAÇÃO
(Olavo Bilac)
Fita o Mestre, da cruz, a multidão fremente,
A negra multidão de seres que ainda ama.
Sobretudo se estende o raio dessa chama,
Que lhe mana da luz do olhar clarividente.
Gritos e altercações! Jesus, amargamente,
Contempla a vastidão celeste que o reclama;
Sob os gládios da dor aspérrima, derrama
As lágrimas de fel do pranto mais ardente.
Soluça no silêncio. Alma doce e submissa,
E em vez de suplicar a Deus para a injustiça
O fogo destruidor em tormentos que arrasem,
Lança os marcos da luz na noite primitiva,
E clama aos Céus em prece compassiva:
“— Perdoai-lhes, meu Pai, não sabem o que fazem!...”
Publicado por Goulart Gomes
em 23/03/2007 às 19h54