× Capa Meu Diário Textos Áudios E-books Fotos Perfil Livros à Venda Prêmios Livro de Visitas Contato
Território Inimigo
Literatura, História, Museologia e Numismática. Sítio de Goulart Gomes, o criador do Poetrix.
Meu Diário
29/03/2007 23h59
PESSOA, SEMPRE!
Certa vez ouvi esse poema recitado pelo ator Walmor Chagas, em um programa de televisão. Uma interpretação simplesmente fantástica, inesquecível. Um texto que nos faz refletir sobre o mundo que nos cerca.



P0EMA EM LINHA RETA
(Fernando Pessoa / Álvaro de Campos)


Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?

Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

----------------------------------------

Uma visão breve sobre a vida e a obra do maior poeta da língua portuguesa:

- 1888: Nasce Fernando Antônio Nogueira Pessoa, em Lisboa.

- 1893: Perde o pai.

- 1895: A mãe casa-se com o comandante João Miguel Rosa. Partem para Durban, África do Sul.

- 1904: Recebe o Prêmio Queen Memorial Victoria, pelo ensaio apresentado no exame de admissão à Universidade do Cabo da Boa Esperança.

- 1905: Regressa sozinho a Lisboa.

- 1912: Estréia na Revista Águia.

- 1915: Funda, com alguns amigos, a revista Orpheu.

- 1918/1921: Publicação dos English Poems.

- 1925: Morre a mãe do poeta.

- 1934: Publica Mensagem.

- 1935: Morre de complicações hepáticas em Lisboa.


Os versos acima, escritos com o heterônimo de Álvaro de Campos, foram extraídos do livro "Fernando Pessoa - Obra Poética", Cia. José Aguilar Editora - Rio de Janeiro, 1972, pág. 418.

(fonte: wwew.releituras.com)
Publicado por Goulart Gomes
em 29/03/2007 às 23h59
 
28/03/2007 23h20
EDUARDO ALVES DA COSTA
Durante muito tempo um poema rodou a Internet, sendo atribuído a Maiakóski. Grande erro. Na verdade o poema era do brasileiro Eduardo Alves da Costa. Vejam, abaixo, o texto na íntegra:

NO CAMINHO COM MAIAKÓVSKI
 
 
Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.
 
Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
 
Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.
 
Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne a aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.
 
Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.
 
E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!
Publicado por Goulart Gomes
em 28/03/2007 às 23h20
 
28/03/2007 23h15
MAIAKÓVSKI
Filho de um guarda-florestal, o poeta Vladímir Maiakóvski nasceu na Geórgia em 1893. Depois da morte do pai, em 1906, a família — ele, a mãe e duas irmãs mais velhas — mudou-se para Moscou. Lá, estudante, desenvolveu interesse pela literatura marxista e passou a tomar parte em atividades do Partido Social-Democrático Operário Russo, ao qual depois se filiou.

Maiakóvski foi preso três vezes sob a acusação de atividades subversivas. Mas, por ser menor de idade, livrou-se da pena de deportação. Em 1911, entrou na Escola de Belas Artes, onde, com outros artistas, deu início ao chamado movimento cubo-futurista russo. Em 1914, por causa de suas atividades políticas, Maiakovski foi expulso da Escola de Belas Artes.

Após a Revolução Socialista, em 1917, o grupo futurista aderiu ao novo regime. Maiakóvski dedicou-se à propaganda pela consolidação do novo Estado. Escrevia e desenhava cartazes de campanhas sanitárias, publicidade de produtos etc. Em 1923, ele fundou a revista LEF, que pretendia reunir "a esquerda das artes". Ou seja, artistas de esquerda que desejavam ser revolucionários também no plano artístico. Mas, ao longo dos anos 1920, a inquietação do poeta começou a incomodar a crescente burocracia do novo regime.

Envolvido em desilusões políticas e desapontamentos pessoais, Vladímir Maiakovski matou-se com um tiro em abril de 1930. (fonte: poesia.net)


A PLENOS PULMÕES

(Trecho final)

Camarada vida,
vamos,
para diante,
galopemos
pelo quinqüênio afora.
Os versos
para mim
não deram rublos,
nem mobílias
de madeiras caras.
Uma camisa
lavada e clara,
e basta, —
para mim é tudo.
Ao
Comitê Central
do futuro
ofuscante,
sobre a malta
dos vates
velhacos e falsários
apresento
em lugar
do registro partidário
todos
os cem tomos
dos meus livros militantes.

Dezembro, 1929 / janeiro, 1930

(Tradução: Haroldo de Campos)
Publicado por Goulart Gomes
em 28/03/2007 às 23h15
 
28/03/2007 00h47
O que é importante?
SOBRE IMPORTÂNCIAS
(Manoel de Barros, Memórias Inventadas: A Segunda Infância)


Um fotógrafo-artista me disse outra vez: Veja que pingo de sol no couro de um lagarto é para nós mais importante do que o sol inteiro no corpo do mar. Falou mais: que a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balanças nem com barômetros etc. Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós.

Assim um passarinho nas mãos de uma criança é mais importante para ela do que a Cordilheira dos Andes.

Que um osso é mais importante para o cachorro do que uma pedra de diamante.

E um dente de macaco da era terciária é mais importante para os arqueólogos do que a Torre Eiffel. (Veja que só um dente de macaco!)

Que uma boneca de trapos que abre e fecha os olhinhos azuis nas mãos de uma criança é mais importante para ela do que o Empire State Building.

Que o cu de uma formiga é mais importante para o poeta do que uma Usina Nuclear. Sem precisar medir o ânus da formiga.

Que o canto das águas e das rãs nas pedras é mais importante para os músicos que os ruídos dos motores da Fórmula 1.

Há um desagero em mim de aceitar essas medidas. Porém não sei se isso é um defeito do olho ou da razão. Se é defeito da alma ou do corpo.

Se fizerem algum exame mental em mim por tais julgamentos, vão encontrar que eu gosto mais de conversar sobres restos de comida com as moscas do que com homens doutos.
Publicado por Goulart Gomes
em 28/03/2007 às 00h47
 
27/03/2007 23h34
SOJOURNER TRUTH
SOJOURNER TRUTH nasceu por volta de 1797 no bairro de Hurley, em Nova Iorque, na condição de escrava. Fugiu para o Canadá em 1827, levando com ela o seu filho mais novo. Em 1829 regressou a Nova Iorque, após a abolição da escravatura nesse estado. Durante mais de uma década trabalhou como empregada doméstica. Nesse período de tempo juntou-se a Elijah Pierson, dando sermões envangélicos nas ruas. Mais tarde tornou-se uma oradora famosa na defesa do abolicionismo e dos direitos das mulheres. Em 1841 mudou-se para Northampton, no Massachusetts, juntando-se a uma comunidade utópica (a Northampton Association of Education and Industry). Quando a comunidade encerrou, ela permaneceu em Florence, no Massachusetts, onde trabalhou com Olive Gilbert na produção da auto-biografia Narrative of Sojourner Truth: A Northern Slave. Em 1857 Truth mudou-se para o Michigan e aí continuou a defender os seus ideais. Depois da Proclamação de Emancipação ela mudou-se para Washington DC, onde conheceu o presidente Abraham Lincoln. Em 1867 voltou para o Michigan e morreu na sua casa em Battle Creek (no dia 26 de Novembro de 1883). Em 1983 ela passou a estar representada no Michigan Women's Hall of Fame. (Wikipedia).

Leia, abaixo, o trecho de um dos seus célebres discursos:


NÃO SOU UMA MULHER?
Sojourner Truth

"Bem, crianças, onde existe muita confusão deve haver alguma coisa fora de controle. Eu acho que entre os negros do Sul e as mulheres do Norte, todos falando em direitos, em breve o homem branco estará encrencado. Mas sobre o que todos aqui estão falando? O homem lá adiante diz que as mulheres precisam ser ajudadas a entrar nas carruagens e a sair do buraco e a ter por toda parte os melhores lugares. Ninguém nunca me ajudou a entrar em carruagens, a sair da lama nem me deu qualquer lugar melhor! E não sou uma mulher? Olhem para mim? Olhem para o meu braço! Eu lavrei a terra, plantei e juntei tudo no celeiro e nenhum homem poderia me liderar! E não sou uma mulher? Eu poderia trabalhar e comer tanto quanto um homem - quando eu conseguia - e suportar o chicote tão bem quanto! E não sou uma mulher? Dei à luz treze crianças e vi a maior parte delas vendidas para a escravidão e quando chorei com a tristeza de mãe só Jesus me ouviu! E não sou uma mulher? Então eles falam desta coisa na cabeça; o que é isto que eles chamam? (Inteligência, alguns chamam de sussurros). É assim, querido. O que é que fizeram dos direitos das mulheres ou dos negros? Se em minha taça não couber uma medida e na sua couber um quarto não seria mesquinho você não me deixar ter minha meia medida toda? Então aquele pequeno homem de preto lá diz que as mulheres não podem ter tantos direitos quanto os homens porque Cristo não era mulher! De onde vem seu Cristo? De onde vem seu Cristo? De Deus e uma mulher! O Homem não tem nada a fazer com Ele. Se a primeira mulher que Deus fez era forte o suficiente para virar o mundo de ponta cabeça sozinha, estas mulheres juntas devem ser capazes de novamente virá-lo de cabeça para cima ! E agora elas estão querendo fazer isso e é melhor os homens as deixarem fazer. Obrigado por me ouvirem e agora a velha Sojourner não tem mais nada a dizer."
Publicado por Goulart Gomes
em 27/03/2007 às 23h34
Página 74 de 79
« 71 72 73 74 75 76 77 78 79