× Capa Meu Diário Textos Áudios E-books Fotos Perfil Livros à Venda Prêmios Livro de Visitas Contato
Território Inimigo
Literatura, História, Museologia e Numismática. Sítio de Goulart Gomes, o criador do Poetrix.
Meu Diário
13/04/2007 06h29
Descrições do Tempo
(Autor ignorado)

As expressões abaixo são muito comuns em todo o Brasil... e na Bahia mais ainda. Por isso, se você pretende vir para estes lados, é bom saber:


AGORINHA MESMO:
Se não viesse acompanhada da palavra MESMO, poderia significar que nas próximas horas seria feito. Seria, ou como diz Caetano " ou não". É que a
palavra MESMO significa que você está sendo enrolado.

DEPENDE:
Envolve a conjunção de várias incógnitas, todas desfavoráveis. Em situações anormais, pode até significar sim, embora até hoje tal fenômeno só tenha sido registrado em testes de laboratório. O mais
comum é que signifique diversos pretextos para dizer não.

DEPOIS: Similar a MÊS QUE VEM, com alguma possibilidade que aconteça em um menor período de tempo, ainda que remota.

JÁ, JÁ:
Aos incautos pode dar a impressão de ser duas vezes mais rápido do que já. Ledo engano: é muito mais lento. "Faço já" significa "Passou a ser minha primeira prioridade", enquanto "Faço já já" quer dizer apenas "Assim que eu terminar de ler meu jornal, prometo que vou pensar a respeito".

LOGO:
Logo é bem mais tempo do que dentro em breve e muito mais do que daqui a pouco. É tão indeterminado que pode até levar séculos. "Logo chegaremos a outras galáxias", por exemplo. Atenção: É preciso tomar cuidado com a frase "Mas logo eu ?", que quer
dizer "Tô fora".

MÊS QUE VEM:
Existem três tipos de meses: aquele em que estamos, os que já passaram e os que ainda virão. Portanto, todos os meses, do próximo até o Apocalipse,
são meses que vêm.

NESTANTE:
Se você tem pavio curto, respire fundo 10 vezes ao ouvir essa palavra. Os incautos vão pensar que a junção das palavras "nesse + instante" poderia
indicar pressa para fazer algo agora mesmo. Não. Nestante é a mais vaga e incerta de todas as palavras desse dicionário.

NO MÁXIMO:
Essa é fácil: quer dizer no mínimo. Exemplo: Entrego em meia hora, no máximo. Significa que a única certeza é de que a coisa não será entregue antes de meia hora.

PODE DEIXAR:
Traduz-se como nunca.

PABASE:
Assim como POR VOLTA. Essa expressão dá idéia aproximada de tempo, que pode ser de 1 hora, 8
horas ou nunca. Muito usada na Bahia, também é substituída por " de meio dia pra tarde" mas sem nenhuma certeza disso.

PERA:
Contração de ESPERA, que assim com PERAÊ RAPINHO ou PERAÍ não significa que será feito nos próximos 10, 20, 30, 40, 50 ou 60 minutos. É algo do tipo: "sabe lá Deus quando".

POR VOLTA:
Similar a "no máximo". É uma medida de tempo dilatada, em que o limite inferior é claro, mas o superior é totalmente indefinido. Por volta das 5h quer dizer, partir das 5 h até "espere sentado".

SEM FALTA:
É uma expressão que só se usa depois do terceiro atraso. Porque depois do primeiro, deve-se dizer "Fique tranqüilo que amanhã eu entrego". E depois do segundo, "Relaxa, amanhã estará em sua mesa". Só aí é que vem o "Amanhã, sem falta".

UM MINUTINHO:
É um período de tempo incerto e não sabido, que nada tem a ver com um intervalo de 60 segundos e raramente dura menos que cinco minutos.

VEJA BEM:
É o day after do depende. Significa "Viu como pressionar não adianta?". É utilizado da seguinte maneira: "Mas você não prometeu os cálculos para hoje?" Resposta: "Veja bem ..."

XIIIIIIIII...:
Essa onomatopéia realmente implica em muito
tempo! Quanto mais letra "i" seja pronunciada, mais tempo vai levar para algo ser feito.
Publicado por Goulart Gomes
em 13/04/2007 às 06h29
 
11/04/2007 06h23
JOÃO CABRAL: O Amor Comeu
O AMOR COMEU - Falas de Joaquim, em "Os três mal-amados".
(João Cabral de Melo Neto)


O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome. O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos. O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina. O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as criações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos. Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios; meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo-morto mas que parecia uma usina. O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água. O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome. O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel. O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso. O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão me asseguram. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.
Publicado por Goulart Gomes
em 11/04/2007 às 06h23
 
11/04/2007 05h58
ONDE ESTÃO OS POETAS?
Nos últimos dias estive em dois eventos literários em Salvador: o lançamento do ótimo livro O FOGO DO INVISÍVEL, de Elizeu Paranaguá (na foto eu sou o segundo, da direita parta a esquerda) e no recital POESIA NA BOCA DA NOITE, com os poetas José Inácio, Edmar Vieira e Helder Sales. De ambos, ficou-me a pergunta: onde estão os poetas da Bahia, que sequer prestigiam seus próprios confrades? Hoje, recebi um ótimo texto do poeta Geraldo Maia, que me instigou a escrever algumas coisas. Vejam em TEORIA LITERÁRIA: "Escritores, uni-vos!"
Publicado por Goulart Gomes
em 11/04/2007 às 05h58
 
02/04/2007 23h59
LUÍS DE CAMÕES
Um dos maiores sonetistas da língua portuguesa, Camões escreveu esse primor, maravilhosamente musicado (em parte) por Renato Russo:



Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luis de Camões
Publicado por Goulart Gomes
em 02/04/2007 às 23h59
 
30/03/2007 19h50
CHICO BUARQUE
A MPB - Música Popular Brasileira - poderia ser dividida em AC3 e DC3. Antes e depois de três letristas fabulosos, que revolucionaram: Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque. Infelizmente, Chico pouco fez parte da minha formação poético-musical, falha que tento recuperar agora, antes que seja tarde. Uma de suas letras que mais me impressionam é "Mar e Lua". Independente de gostos e crenças, a mais bela descrição de uma relação lésbica da nossa literatura:




Mar e Lua
Chico Buarque

Amaram o amor urgente
As bocas salgadas pela maresia
As costas lanhadas pela tempestade
Naquela cidade
Distante do mar
Amaram o amor serenado
Das noturnas praias
Levantavam as saias
E se enluaravam de felicidade
Naquela cidade
Que não tem luar
Amavam o amor proibido
Pois hoje é sabido
Todo mundo conta
Que uma andava tonta
Grávida de lua
E outra andava nua
Ávida de mar

E foram ficando marcadas
Ouvindo risadas, sentindo arrepio
Olhando pro rio tão cheio de lua
E que continua
Correndo pro mar
E foram correnteza abaixo
Rolando no leito
Engolindo água
Rolando com as algas
Arrastando folhas
Carregando flores
E a se desmanchar
E foram virando peixes
Virando conchas
Virando seixos
Virando areia
Prateada areia
Com lua cheia
E à beira-mar
Publicado por Goulart Gomes
em 30/03/2007 às 19h50
Página 73 de 79
« 71 72 73 74 75 76 77 78 79