Minimal, um dos máximos de Goulart Gomes
por Márcia Tude
Em sua Poética, Aristóteles já afirmava que a poesia nasce de uma necessidade de imitação de ações. Imitar não é copiar ou reproduzir fidedignamente a realidade, mas transpor o decalque, interferindo na originalidade de uma plataforma já construída. Neste sentido, o poetrix (neologismo criado a partir de poe, poesia e trix, três) é uma alternativa ao hai-kai e nasce das intervenções cognitivas que o seu criador, Goulart Gomes, pôde construir diante da árdua tarefa de sublimar o pré-existente, conscientemente ou não, adaptando os versos à realidade de uma contemporaneidade literária cada vez mais libertadora.
A esta liberdade une-se um gostoso fazer literário, onde os seus adeptos conseguem exprimir o máximo em apenas trinta sílabas, três versos e um título, aproveitando-se de metáforas, neologismos e expressões urbanas que representem um universo essencialmente minimalista e criativo. Minimal (Copygraf Editora, 2007), presenteia o leitor com quatrocentos poetrix em português, alguns traduzidos para o espanhol, italiano, francês, inglês e alemão. São versos escritos por Goulart ao longo de vinte anos de carreira, representando o que há de melhor neste gênero literário, instituído por ele em 1999, e que já extrapolou as fronteiras do Brasil, com adeptos em vários países, com destaque para Portugal e Argentina, além de Uruguai, Colômbia, México, Estados Unidos e Espanha. Além de ser uma leitura obrigatória para os poetrixtas já experimentados, Minimal traz o frescor da maturidade poética, tanto do gênero quanto do fazer literário do autor, tornando-se uma referência, também, para todos os que desejam compreender a leveza do poetrix. E não se trata de uma leveza descompromissada, fugaz, porque ater-se ao mínimo é, por vezes, muito mais trabalhoso do que afugentar-se em um vendaval de palavras.
Para conceber o título e o tamanho do seu mais novo trabalho (a edição é de bolso), o autor inspirou-se exatamente na opinião minimalista de Machado de Assis sobre o conto: “o tamanho não é o que faz mal a esse gênero de histórias, é naturalmente a qualidade; mas há sempre uma qualidade nos contos, que os torna superiores aos grandes romances, se uns e outros são medíocres: é serem curtos”. E ser curto e objetivo é condição fundamental para a prática do poetrix, o que o torna, ao mesmo tempo, gostoso de fazer para uns e motivo de superação para outros (para não falar dos desafetos, puristas, que “torcem o nariz” para a reconstrução da originalidade).
Com mais de dez livros publicados entre prosa e poesia, premiado em inúmeros concursos nacionais e internacionais, e participante em mais de vinte antologias internacionais, Goulart também é um dos fundadores do MIP – Movimento Internacional Poetrix, que mantém vibrante a criativa tradição dos tercetos, encontrando, na internet, um espaço ideal para circulação das mensagens, postagens e versos do grupo. Na introdução à Antologia Poetrix II, o autor afirma que, se pesquisarmos a palavra poetrix no Google, aparecerão mais de quarenta e três mil entradas. É verdade. Virou uma febre. Mas é na apresentação de Minimal que se lê a opinião que me parece melhor representar o universo poetrixta de Goulart Gomes: Aila Magalhães escolhe três poetrix para afirmar que os versos de Goulart são “cheios de segredos por desvendar, repletos de entrelinhas que a muitos insinuam suas nuanças, mas por vezes carregados de pequenos dardos, sempre certeiros. No alvo. No ponto.”
Eu reitero Aila e, da sua sábia seleção, cito o belo Epílogo que parece resumir o pensamento múltiplo e a espiritualidade de Goulart Gomes, criador de uma linguagem poética cada dia mais universal; febre que se insinua, hoje, onde quer que se esteja:
EPÍLOGO
sim, sou eu
até que a morte
me separe