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Território Inimigo
Literatura, História, Museologia e Numismática. Sítio de Goulart Gomes, o criador do Poetrix.
Meu Diário
24/09/2007 21h36
SARA TEASDALE

NÃO ME IMPORTAREI NADA
Sara Teasdale (EUA, 1884 - 1933)

Quando estiver morta, e sobre mim o claro abril
sacudir seu cabelo de chuvas compactas,
embora vergues para mim de alma partida,
não me importarei nada.

Terei a paz que têm as árvores espessas
sob a chuva que os ramos lhes dobra.
E terei mais silêncio e um coração mais frio
do que tu, agora.

Publicado por Goulart Gomes
em 24/09/2007 às 21h36
 
23/09/2007 21h26
ANDRÉ SPIRE: Tua Alma
Sempre que tenho a possibilidade de  ir buscar livros nos sebos (casas de livros usados), procuro encontrar antigas antologias poéticas, nacionais e internacionais. Um dos meus últimos achados - que arrebatei pela módica quantia de oito reais (quatro dólares), em um sebo no Rio de Janeiro - é um volume da coleção Obras Primas - Poesia Universal, organizada por Sérgio Milliet e publicada em 1957. Essa obra apresenta grandes poetas de todos os países, incluindo muitos brasileiros, então ainda vivos, como Manoel Bandeira, Drummond, Vinicius, etc, alguns dos quais traduziram vários dos poemas publicados. O que mais me atrai nessas antologias é descobrir poetas até então por mim desconhecidos. É o caso de ANDRÉ SPIRE e outros poetas que publicarei aqui nos próximos dias. Espero que gostem:

TUA ALMA
André Spire (Paris, 1868 - 1949)

Qual de tuas almas desejas imortal?
Tua alma infantil, buliçosa pura,
tua alma em botão, cera virgem?

Ou tua alma amorosa de adolescente,
estourando de risos e canções,
obsedada de olhos azuis e mechas loiras?

Ou ainda tua alma violenta de homem,
com todos os mundos
e todos os ideais que tentou abarcar?

Ou enfim essa alma tímida e gelada
que hoje, ao fogo da lareira
esquenta a memória enrugada?

Para qual dessas almas é que queres
a Visão Inefável,
a Eterna Presença,
os Coros Inauditos?
Publicado por Goulart Gomes
em 23/09/2007 às 21h26
 
08/09/2007 09h03
CHARLES CHAPLIN

"O tempo é o melhor autor: sempre encontra o final perfeito."

Publicado por Goulart Gomes
em 08/09/2007 às 09h03
 
03/09/2007 22h05
NELSON RODRIGUES: O óbvio ululante
Nelson Rodrigues é minha "flor de obsessão". A expressão é do próprio Nelson, quando se referia aos personagens ou temas recorrentes em suas crônicas: a vizinha gorda machadiana, o Palhares, D. Hélder, José Lino Grunewald, Antonio Callado, Otto Lara Resende, Ferreira Gullar e tantos outros. 

Redescobri o grande escritor este ano. Antes, só havia lido dele BEIJO NO ASFALTO. Nos últimos meses devorei cinco dos seus livros: A Vida Como Ela É, Elas Gostam de Apanhar,  O Casamento, Bonitinha mas ordinária e, agora, O Óbvio Ululante. Nelson, ao lado de Guimarães Rosa, tornaram-se minhas duas grandes "flores de obsessão".

É impressionante como suas crônicas sobre o Brasil do final da década de 60 são tão atuais... poderiam ter sido escritas ontem! Selecionei e transcrevo, abaixo, os trechos preferidos dessa obra imperdível: O Óbvio Ululante:

"Ah, eu teria de explicar que há, em qualquer infância, uma antologia de mortos; e, para o menino que fui, Pinheiro Machado é um desses mortos fundamentais. (4/12/67)

O ônibus apinhado é o túmulo do pudor. (7/12/67)

Guimarães Rosa era o único gênio de nossa literatura. (7/12/67)

O grande homem é o menos amado dos seres. O homem não nasceu para ser grande. Um mínimo de grandeza já o desumaniza. (9/12/67)

A pior forma de solidão é a companhia de um paulista. (14/12/67)

Pelé... é o menos preto dos brasileiros... Ninguém mais branco do que Pelé e cada vez mais branco. (19/12/67)

Sempre que escrevo que todo amor é eterno; e, se acaba, não era amor... O amor não deixa sobreviventes. (23/12/67)

Tudo é falta de amor. O câncer no seio ou qualquer outra forma de câncer. É falta de amor... E sempre há os que apodrecem em vida porque separaram o sexo e o amor. A toda hora esbarramos com sujeitos que praticam a variedade sexual. Esse vão morrer na mais fria, lívida, espantosa solidão (2/1/68)

Comecei a entender, aos sete ano, uma verdade que havia de me perseguir a vida inteira: o sexo só faz canalhas (nunca houve um santo do sexo. (3/1/68)

O médium é o ouvinte do que morreu. (3/1/68)

Era tão absurdamente frágilque não estou longe de achar que o forte é um canalha. (5/1/68)

Enquanto a esquerda que aí está não for substituída até seu último idiota, não vai acontecer nada, rigorosamente nada. (9/1/68)

Fui varado por um sentimento de culpa que ainda hoje, quase meio século depois, me persegue. De vez em quando eu começo a me sentir um pulha. Sofro como um réu. Sou réu, mas de que, meu Deus? E, de repente, há um clarão interior e vejo tudo. É a bofetada que ainda está em mim, é culpa que não passa. Eis o que aprendi no episódio infantil: - é melhor ser esbofeteado do que esbofetear. Tudo é falta de amor. O câncer no seio ou qualquer outra forma de câncer. É falta de amor... E sempre há os que apodrecem em vida porque separaram o sexo e o amor. A toda hora esbarramos com sujeitos que praticam a variedade sexual. Esse vão morrer na mais fria, lívida, espantosa solidão (2/1/68)

Aos sessenta anos ninguém peca. Tudo é falta de amor. O câncer no seio ou qualquer outra forma de câncer. É falta de amor... E sempre há os que apodrecem em vida porque separaram o sexo e o amor. A toda hora esbarramos com sujeitos que praticam a variedade sexual. Esse vão morrer na mais fria, lívida, espantosa solidão (2/1/68)

Comecei a entender, aos sete ano, uma verdade que havia de me perseguir a vida inteira: o sexo só faz canalhas (nunca houve um santo do sexo. (3/1/68)

Ah, no antigo Brasil, era uma humilhação ser jovem... Há uma vergonha da velhice. (11/1/68)

Mas o que é a nossa vida se não a soma de protestos inúteis?... O europeu é, sob esse aspecto, o menso problemático dos seres. Na China, ou na Conchinchina, ele continuará o mesmíssimo europeu. Ao passo que, fora do Brasil, o brasileiro deixa de ser brasileiro. (29/3/68)

A fome ainda não assalta. O assaltante não quer comer. Mata e fere para ter o supérfluo. Dirá alguém que estou falsificando a verdade. Mas insisto em que só a fome literária do Zola arromba padarias e pendura o padeiro num pedaço de pau. (1/4/68)

Callado, vou contar-te uma que eu só diria ao médium, depois de morto (12/3/68)

Eu gostaria de notar: - como são duas ausências parecidas, a do amor e a da morte. A mulher que sai para amar, que foge para amar, e que esconde o seu amor, é a maior das ausentes. (1/3/68)

As coisas não ditas apodrecem em nós. (16/4/68)

O brasileiro é um Narciso às avessas que cospe na própria imagem. (18/4/68)

Tenho dito que a nossa época está ferida pela solidão. Não vejo outro tema mais urgente e fascinante. Somos todos solitários. Odiamos, matamos e morremos por solidão. (19/4/68)

Por isso mesmo, Guimarães Rosa teve um gesto perfeito. Foi o menos político dos nossos autores e, repito, foi o mais autor de nossos autores. Era só autor, era só escritor, era só estilista. Nunca o vimos carregando faixas e pichando muros com vivas a Cuba... Guimarães Rosa foi apenas o santo da frase. A frase estava acima de tudo. E porque não existiu politicamente, pôde levantar o seu monumento estilístico. (23/4/68)

Se querem saber, não sei francês. Não sei nenhuma outra língua, além da minha. As coisas só existem na minha própria língua (22/4/68)

Há um luxo que é uma degradação para quem mora e para quem visita... Nós vivemos uma época cínica. Ninguém se espanta. E, no entanto, o espanto é um dom, uma graça. Como se pode ter vida moral sem mutíssimos espantos? (26/1/68)

O poeta tem ser profético ou não é poeta. (27/1/68)

Eis o que me dói ainda hoje: - nós olhamos pouco para os seres amados (14/2/68)

Coincide que nós vivemos uma época crudelíssima. Para preservar a sua humanidade, o sujeito tem de lutar, ferozmente, contra tudo e contra todos. E das duas uma: - ou cada um constrói a sua solidão ou os outros o matam. (Alguém disse que os "outros" são os nossos assassinos). Vêm de toda parte as pressões que nos desumanizam. Há a manchete, o rádio, a televisão, o anúncio e, em suma, toda uma gigantesca estrutura que exige a nossa falsificação. (11/4/68)
Publicado por Goulart Gomes
em 03/09/2007 às 22h05
 
25/08/2007 20h08
GILBERTO GIL: Pop wu wei
Acabei a leitura de TODAS AS LETRAS, obra organizada por Carlos Rennó que contém todas as letras escritas por Gilberto Gil, a maior parte delas comentadas pelo próprio compositor. Para mim, foi uma "viagem" interessante, de redescoberta deste baiano genial a quem já tive o prazer de apertar a mão, observando e absorvendo as influências que o/nos alimentam: a filosofia, o esoterismo, todas as religiões, sem preconceitos. De todas poesias lidas e relidas, a que mais me intoxicou foi POP WU WEI, que faz uma poética releitura do conceito taoísta de ação e não-ação. No comentário, Gil fala da bela imagem da garça que pousa sobre um tronco que flutua nas águas de um rio: repouso e movimento simultâneos. Extasiante! Parabéns, ministro!


Pop wu wei

(1995)


O movimento está para o repouso
Assim como o sofrimento está para o gozo

Por isso eu faço tudo pra não fazer nada
Ou então não faço nada pra tudo fazer
Eu gosto de deixar a onda me levar sem nadar
Deixar o barco correr
Mas como o povo diz que Deus teria dito:
"Faz a tua parte que eu te ajudarei"
Melhor considerar o dito por não dito e dizer:
"Tudo que eu puder farei"

Meu bem, eu sei que posso estar contando prosa
E como é perigosa minha afirmação
Sair do movimento bem que pode ser um tormento
Eis outra constatação
O fato é que eu sou muito preguiçoso
Tudo que é repouso me dará prazer
Se Deus achar que eu mereço viver sem fazer nada
Que eu faça por merecer
Publicado por Goulart Gomes
em 25/08/2007 às 20h08
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