Antioposto
Antioposto
Gosto de exórdios;
tem sabor de salsaparrilha,
que assim pelo nome espichado
havera de ser coisa palatosa
Moleques, brincamos de maus
por só conhecermos o bem
e não despartilharmos corte, de canivete
tiro, de genocídio; pratos de balança
Recordo Orzeu, que acordou assustado
verificativo
o mundo gira mais rápido
do que podemos acompanhá-lo
se entendia o claro e o escuro
macho e fêmea; querência e desapego
noite e dia era pela própria androginia das coisas
Antiléxico, ignorava verbete sozinho explicável
só compreendia pelos contrários
E, à noite, não sonhava
Deslembrava o último que arremetera
Ignorava coisas sem aço:
os vidros que não chegaram a espelhos,
água potável, óculos sem grau, vento e
mesmo baby-doll transparente atormentavam-no
Forcejava miragens
transmutava visões
travestia fantasias
e de risos só via os gatos;
a simetria dos sensos abandonara-o
nada validava: visto, escutado, cheirado
provado ou tocado, nada
nada
nada
nada
lhe garantia nada
Ruminava o dia por completo, plantava cogumelos
Pela ausência de sonhos tornou-se a si
um pesadelo, por pirraça
Dimensões se confundiam, a realidade fenecia
por absoluta falta de paz
Virou imortal
pela presença de vida que a morte requer
Gosto de corolários,
que assim pelo nome botânico
tem cheiro sexual de gineceu
Meninos, brincamos de sonhos
por incabermos onde nos põem
e não diferençarmos quaresma, de carnaval;
epicenos
feições
- publicada em LINGUAJÁ, O TERRITÓRIO INIMIGO -
Goulart Gomes
Enviado por Goulart Gomes em 03/03/2007